Paulo não, Paulinho!
Repórter, mestre, professor, assessor: há 40 anos, Paulinho Scarduelli vive a comunicação como profissão e propósito
NATHALY BITTENCOURT
Há nomes que dizem muito sobre quem os carrega. Paulinho Scarduelli é um deles. Paulo, de batismo, transformou-se em Paulinho. Ao contrário do que o diminutivo sugere, o “inho” não fala de tamanho, mas de afeto — é carinho que transborda no nome e na presença. A história do hoje reconhecido jornalista catarinense começa em Criciúma, no dia 24 de novembro de 1964.
Filho de um mecânico e de uma costureira, a comunicação não era um caminho óbvio. Nem mesmo a leitura era presente na sua vida: o único livro da casa era uma bíblia. O jornalismo, ali, parecia distante. A aproximação com a profissão aconteceria apenas no ensino médio, quase como uma intervenção divina.
Na época do vestibular, ainda indeciso sobre qual rumo seguir, ouviu de uma freira do colégio: “Paulinho, eu acho que tu tens jeito para comunicador. Tu te comunicas bem, já pensou nisso?”. Foi o empurrão que precisava e, a partir dali, nada foi como antes.
Ingressou no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no início da década de 1980, ainda um rapaz franzino, de cabelos cheios e encaracolados. Naquele tempo, o mercado de trabalho seguia um modelo clássico. Fazer jornalismo significava, quase sempre, atuar em uma redação, fosse na televisão, no rádio ou no jornal impresso, como explica Paulinho.

Uma das diferenças mais marcantes em relação ao mercado atual é que, de acordo com Paulinho, não existia uma cultura de estágio tão forte quanto hoje. Ainda assim, não foi difícil para o jovem jornalista encontrar emprego — saiu da UFSC com dois registros na carteira de trabalho. Estagiar, porém, não era visto como um passo obrigatório na formação.
Suas metas após a formatura também não eram mirabolantes. “O que eu esperava da minha carreira era colocar em prática aquilo que aprendi na faculdade. Eu não tinha sonhos maiores, não. Tanto que eu comecei pelo esporte, que era o meu tema do TCC”, conta. Sem sonhar muito alto, Paulinho saiu dos corredores do “aquário” (apelido dado para as dependências do departamento de Jornalismo da UFSC) direto para a redação do Diário Catarinense, um dos marcos mais importantes da sua trajetória profissional.

Para quem pensa que ralar para ganhar dinheiro com jornalismo é algo recente, em 1985 ele já conciliava dois empregos. “Financeiramente, eu não acho que o salário [de jornalista] era muito diferente do que é hoje. Mas eu não vivia de um salário, né?”, relata. Na redação, repórter; na UFSC, auxiliar administrativo.
Paulinho dividia seus dias entre o jornal e a universidade, equilibrando duas jornadas para fazer o jornalismo acontecer e pagar as contas. A renda foi suficiente para comprar uma moto. Mais tarde, veio o fusquinha, seu primeiro carro.
Do esporte, foi para a editoria geral e se aventurou com o jornalismo investigativo. Paulinho conquistou espaço para abordar temas delicados para a época, como o mercado do sexo, o uso de drogas e as doenças sexualmente transmissíveis.
Foram cerca de 10 anos trabalhando em redações quando decidiu buscar novos desafios.
Mestrado, docência e empreendedorismo
O mestrado foi um divisor de águas na sua trajetória. Já era um repórter respeitado em Florianópolis, com uma carreira marcada por denúncias que provocaram grandes repercussões, como a abertura de investigações do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Apesar do reconhecimento — chegou a ser premiado como melhor repórter da RBS de Santa Catarina — sentia que havia entrado em uma zona de conforto. Foi esse incômodo que o motivou a aprofundar os estudos.
Assim, ingressou no mestrado em Comunicação Social da Universidade de São Paulo (USP), onde passou em 1º lugar entre 36 candidatos nacionais e internacionais. A experiência acadêmica rendeu frutos: publicou quatro livros (dois individuais e dois em parceria) e deu início a uma nova etapa profissional, agora na docência.
Ao retornar a Florianópolis, passou a lecionar e fundou o curso de Jornalismo da Estácio de Sá. No plano pedagógico que elaborou, inseriu uma proposta inovadora, alinhada às transformações do mercado: integrar o jornalismo ao empreendedorismo. Coordenou o curso por dez anos e ajudou a formar mais de 300 jornalistas.
Saindo da Estácio, optou por um modelo de trabalho mais flexível para cuidar dos três filhos e criou sua própria empresa, a Scarduelli Comunicação, que hoje atua majoritariamente de forma remota — outra tendência forte do mercado.

Aos 60 anos, Paulinho celebra quatro décadas de jornalismo, ofício que abraçou com a mesma intensidade de quando, ainda jovem e com o coração apertado, deixou Criciúma em direção ao desconhecido.
“Eu diria que a comunicação podia ser um sinônimo do Paulinho, sabe? Paulinho é comunicação”, reflete. “Penso nisso o tempo todo. O tempo inteiro eu tento fazer isso da melhor forma possível. A comunicação é tudo pra mim”, enfatiza.
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