Estudantes estrangeiros enfrentam preconceito nos trabalhos temporários de verão
Alunos da UFSC vindos de Guiné Bissau compartilham experiências como trabalhadores sazonais
ALAÍDE GONÇALVES
Com a chegada do verão, muitos estudantes estrangeiros veem a oportunidade de ganhar um dinheiro extra para ajudar nas despesas, já que vários deles não recebem o apoio financeiro dos familiares. Esses alunos, que preferiram não ser identificados, admitem que estão trabalhando de forma irregular, uma vez que a legislação brasileira não permite que estrangeiros com visto de estudantes tenham empregos formais que não sejam estágios.
“No Brasil, a Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008, conhecida como a Lei do Estágio, regula o trabalho de estudante. De acordo com essa lei, estudantes estrangeiros com visto de estudante podem realizar estágios, desde que cumpram os requisitos estabelecidos, como matrícula e frequência regular em uma instituição de ensino e a celebração de um termo de compromisso entre o estudante, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino”, diz Eduardo Iebre, professor e advogado trabalhista.
Mesmo recebendo uma bolsa, os estudantes alegam que não é o suficiente para suprir todas as necessidades e que a temporada de verão ajuda a complementar a renda e permite cobrir despesas adicionais. Apesar dos benefícios, como uma renda extra, eles passam por situações desconfortáveis em que se deparam com preconceito e racismo. “Teve um caso em que fui atender um cliente e ele não queria conversar comigo, me ignorou, ele se recusou a falar comigo até que o meu colega, que era branco, foi atender”, diz um dos estrangeiros que trabalhou como garçom em um restaurante.
Outro estrangeiro, que trabalhou em um hotel, frequentemente enfrentava perguntas sobre a sua origem, e ao revelar, tinha que lidar com comentários que o deixavam desconfortável. “Falavam coisas do tipo ‘nossa, eu vi que as pessoas estão morrendo de fome na África, eu queria tanto ir lá ajudar’, e eu me perguntava se não tem pessoas morrendo de fome no Brasil”, diz. Ele também revelou que a responsável pelo hotel não o deixava trabalhar na recepção, alegando que os clientes preferiam pessoas brancas, e frequentemente percebia que os clientes tinham receio que ele roubasse algo.

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