Evento da ONG Amando na Prática reforçou direito ao lazer na comunidade mais vulnerável de SC

JULIA LUCIANA

Mil e quinhentas crianças participaram no domingo (12) da festa de Dia das Crianças realizada na Frei Damião – a maior e mais vulnerável comunidade de Santa Catarina, situada em Palhoça, na Grande Florianópolis. O evento foi organizado pela ONG Amando na Prática, que realiza a ação desde 2022. 

Criado em 2018 como projeto social, o grupo se oficializou como organização não governamental em junho de 2025, e seu principal foco de ação é a Ocupação Elza Soares, que fica dentro da comunidade.  A Frei Damião enfrenta diversas vulnerabilidades, muitas casas têm apenas um cômodo e não possuem banheiro. “A comunidade é muito marginalizada”, diz Mariana Gerent, diretora da ONG. Segundo o último Censo do IBGE (2022), a Frei Damião possui 7.273 moradores e 2.470 domicílios, sendo reconhecida como a maior do estado.

Durante a festa, foram servidos mais de 3 mil cachorros-quentes e bebidas à vontade. As crianças tiveram acesso a atividades recreativas, como escorregador, pula-pula e touro mecânico, além de pintura facial e spray de cabelo. Para Edinelson, de 12 anos, o evento vai além da diversão. “É uma forma de demonstrar carinho pela comunidade”, disse. 

Segundo Beatriz Livramento, diretora da ONG, os voluntários incentivam as crianças a deixar o espaço limpo e organizado. “As recompensas são as doações que sobram do evento. Neste ano, distribuímos um fardinho de refrigerante para todos que ajudaram. Ficou tudo em ordem e muitas crianças felizes. Elas entendem que boas atitudes sempre são reconhecidas”, diz.

Diego Fernandes, também diretor da ONG, afirma que a festa promove convivência e combate estigmas. “Muita gente tem uma visão deturpada do Frei Damião. Há quem diga que não entra aqui, que não deixaria o filho vir. O evento tenta romper com esse olhar de medo e exclusão”. Ele acrescenta que o poder público não tem olhado para essas famílias de forma sensível. “Não basta entregar cesta básica, há pessoas que nem têm fogão para cozinhar os alimentos”.

A falta de atenção motiva o grupo a realizar iniciativas que vão além do essencial. O “Costelaço de Natal”, pensado para proporcionar um momento especial às famílias, precisou ter seu nome alterado para “Almoço Solidário”, porque o termo não agradou os apoiadores. “A gente achava que ia bombar, mas foi uma das ações menos engajadas. As pessoas acham que na comunidade só precisam de cesta básica, só o básico”, diz Samantha Coutinho, uma das fundadoras da ONG. 

A ativista em direito da criança e do adolescente Andréa Márcia Lohmeyer, doutora em política social pela Universidade de Brasília (UnB), destaca que o lazer é tão importante quanto a saúde ou a educação porque permite que a criança desenvolva habilidades, competências e relações sociais. “A festa no Frei Damião reforça que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e precisam ser prioridade nas políticas públicas”, diz. A prefeitura de Palhoça não promoveu nenhum evento oficial de Dia das Crianças e não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o assunto.