Show de Ana Frango Elétrico exibe seu perfil de multiartista

Cantora falou de suas influências e criações; “Eu queria fazer pintura, ser artista visual”

NATHALIA LUNA

Na nona edição do Arvo Festival, realizada em Florianópolis entre os dias 1° e 3 de maio, Ana Frango Elétrico subiu ao palco principal com seu terceiro álbum de estúdio, “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”. Com influências musicais da década de 80, o disco foi lançado em outubro de 2023. A artista indie foi destaque no evento pela estética da apresentação, com grandes influências das artes plásticas e visuais.

Ana conta que sua arte hospeda uma identidade visual única, e que as influências vistas no show refletem inspirações que a acompanham durante sua formação artística. “Eu queria fazer pintura, ser artista visual. Tenho um desejo inerente pela estética visual do meu trabalho”, confessa.

Além da presença vibrante de Ana, a banda foi um show à parte. No teclado Thomás Jagoda; na bateria, Sergio Machado. Foto: Robson Khalaf

Ela não é só cantora, é também compositora, poeta, multi-instrumentista, artista plástica e estudou teoria musical. E, ao compor seus versos, se lembra do que busca e do que experimenta. “No meu primeiro trabalho, Mormaço queima, eu pintava e escrevia poesia. Pra mim, a música vem atrás disso. É impossível não pensar na parte estética, nas cores de uma música”, explica.

Parte da sua música vem da sua natureza artística e multidisciplinar. “Desenvolvi um trabalho de serigrafias, pinturas e coisas que não necessariamente têm a ver com música, mas estão em mim. Não me considero mais uma coisa só, nos tipos de arte que faço”, diz. Em 2020, lançou o livro Escoliose: paralelismo miúdo, um conjunto de poemas, gravuras e ilustrações.

No show, as músicas tiveram tradução em Libras. Foto: Ingrid Calixto

Outro ponto do trabalho da artista é transformar vivência em composição. Na letra de “Insista em mim” entrega ao público intimidade, uma afetividade que se enxerga nas relações humanas interpessoais. “Acredito que a poesia surge do encontro com o outro, do que você gosta no som do que o outro fala.”

Suas referências orbitam por origens diversas da poesia escrita.“Salgado Maranhão é um poeta brasileiro que, quando o descobri, mudou a minha vida. Entendi a poesia através dele. A poesia está em tudo.”

“Fui ler outras coisas: Maiakóvski, Eucanaã Ferraz, Chacal, Guilherme Zarvos, Maya Angelou… li muitos, de russos a afro-americanos, portugueses.” A inspiração vem também na poesia que ela vive, atenta aos detalhes do cotidiano. “Meus amigos, vizinhos, quem encontro na rua, as trocas. Todos os afetos, todos os cantos do mundo”.

Cantora e banda se despedem do público no final do show. Foto: Ingrid Calixto

Ana vê na música popular contemporânea brasileira — e nos próprios artistas do país — uma liberdade criativa notável. “São muitos ritmos, muita complexidade e simplicidade ao mesmo tempo”, começa ela. Para a cantora, a dimensão continental do Brasil se reflete diretamente na riqueza e na complexidade dos arranjos musicais.

No show, ela também apresentou o título “Mulher Homem Bicho”, trabalho que precede o disco mais recente da cantora.

Entre os projetos futuros da cantora, destaca-se o lançamento de uma versão da música “Não Tem Nada Não”, de Marcos Valle, apresentada durante o show e que deve ganhar uma gravação oficial. “Resolvemos entrar em estúdio e espero lançar essa canção em breve”, revela.

Ana Frango Elétrico no palco Sol do ARVO Festival. Foto: Marcela Mattos Fernandes

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