Grupo da UFSC apresenta peça sobre tabus como homossexualidade, suicídio e aborto na adolescência
O Despertar da Primavera é encenado pelo grupo Os Melodramáticos no Teatro da Ubro
AYANA ARAÚJO
Sexo, homossexualidade, atos de estupro e violência contra jovens de 14 anos estiveram no palco do Teatro da Ubro, no Centro de Florianópolis, no domingo (13). As cenas compõem a peça O Despertar da Primavera, escrita em 1890 pelo dramaturgo e romancista alemão Frank Wedekind e interpretada pelo grupo Os Melodramáticos, do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com direção de Luiz Fernando Pereira e adaptação de Lucas de Lima, a apresentação reuniu 50 espectadores.
A obra original critica à sociedade conservadora da época e discute temas que impactam na vida dos adolescentes no final do século XIX, como sexo, aborto, homossexualidade e suicídio. A apresentação do grupo da UFSC busca fazer um paralelo entre passado e presente, e que muitos assuntos abordados em 1890 ainda são uma realidade.
A apresentação surgiu da pesquisa de pós-doutorado em Artes Cênicas “Uma Nova Contribuição ao Ensino do Uso do Espaço Cênico”, de Luiz Fernando, e é a parte prática da pesquisa. Originou-se com o intuito de utilizar o chamado espaço frontal, onde os atores estão no palco o tempo inteiro, mesmo nas cenas em que não apresentam falas.
Segundo Luiz, a peça também passou por uma preocupação com o Espaço Cênico. “O Espaço Cênico está cada vez sendo o elemento mais importante da apresentação. Nosso trabalho documenta todas as etapas do movimento do ator: passos, postura da mão e posição do corpo”, explica.
Os personagens têm por volta de 14 anos e estão passando pela puberdade, descobrindo suas sexualidades e desejos. Lucas de Lima relata que a falta de informação e o sistema escolar problemático geram a trama. “Os adultos não informam e disseminam informações falsas. Tem uma personagem que é abusada pelo pai sexualmente, mas não tem noção disso. Há também um menino que não consegue lidas com os estudos e acaba se suicidando. Tudo culpa do sistema conservador da época.”
Wendla, uma das personagens principais, pergunta à mãe como se faz um filho. A mãe, envergonhada e sem reação, não responde. No desenrolar da história, Wendla é estuprada e engravida de um colega do colégio, mas, desinformada, não sabe como engravidou.
João Felipe Pereira dos Santos, estudante de Artes Cênicas da UFSC, interpreta Hanschen, um adolescente que se permite viver as experiências da adolescência, sem se importar com tabus e repressão sexual. Para o ator, certas cenas exigiram desprendimento do seu ego e o colocaram em um local de vulnerabilidade. “Me sinto muito satisfeito com meu processo de abraçar esse personagem. Tenho carinho especial pela peça, por ser o primeiro trabalho que participo na academia e alcança para outros espaços fora da universidade”, explica.

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