Estudantes de Biologia ocupam prédio há duas semanas na UFSC

Movimento de ocupação ocorre no Bloco A do CCB e soma 100 estudantes

IARA ROCHA

A ocupação do Bloco A do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pelos estudantes completou duas semanas nesta terça-feira (21). A greve estudantil do Curso de Ciências Biológicas foi deflagrada durante uma assembleia, em 7 de maio, por 175 votos a favor e 15 contra, no campus Trindade, em Florianópolis. Segundo o Comando de Greve (CG) do curso, a ocupação é uma atividade de mobilização realizada no bloco em que a maioria das aulas são ministradas.

No Centro, são ofertados os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas. No total, são cerca de 750 alunos matriculados, além de 11 Programas de Pós-Graduação, e aproximadamente 180 professores e 70 técnicos administrativos em educação (TAEs). A comunidade oficial do CCB totaliza 1,5 mil pessoas. De acordo com o estudante e membro do CG Gabriel Laurindo, de 80 a 100 pessoas participam da ocupação, e de 15 a 20 dormem nas salas de aula diariamente.


“Este espaço estaria ocioso diante da greve e nós decidimos significar e montar um ponto de apoio para as mobilizações estudantis”, argumenta.


Na ocupação, salas de aulas são utilizadas como dormitório pelos estudantes. Foto: Malena Lima

O Comando de Greve conta com 90 integrantes, entre membros do Centro Acadêmico de Biologia (Cabio), do projeto de extensão PET Biologia, da Atlética de Biologia (ATLBIO), do Grupo de Educação e Estudos Ambientais (GEABio) e, ainda, de estudantes independentes.

O Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE) deflagrou greve estudantil em 15 de maio na Universidade. Na mesma data, o CCB completou uma semana de paralisação. Atualmente, 34 cursos da UFSC estão em greve, somando 40% de adesão.

No CCB, a ocupação e a greve são organizadas por sete Grupos de Trabalho (GT): Articulação, Comunicação, Conflitos e Ética, Formação Cultural, Formação Política, Ocupação e Mobilização, e Segurança.


“Cuidar deste espaço tem mantido os estudantes na UFSC para acompanhar a ocupação e se fazer presente mesmo em greve. Porque greve não é em casa, é aqui, discutindo a universidade”, defende Gabriel.


Entre as reivindicações do Comando está a reforma do Centro e o conserto e manutenção de equipamentos usados em laboratórios. Gabriel explica que os blocos E, F, e G do CCB não foram entregues pela construtora responsável em 2019. “Na construção civil, você tem um momento de estudo de instalação, a instalação propriamente dita, a entrega da obra e início da sua operação. Não houve esse passar da instalação para operação, eles abandonaram a obra antes”, relata.

Os blocos não entregues foram ocupados pela direção do CCB em 2019, e, após a pandemia, pelos estudantes e professores em 2022. Os prédios apresentam defeitos em ar-condicionados, portas de incêndio e equipamentos de laboratório, além de problemas na fiação e inundação no subsolo, onde fica localizada a caixa elétrica, em dias de chuva. 

Uma das atividades promovidas na ocupação é o reparo de paredes danificadas por meio da construção de mosaicos. “Se a UFSC não tem dinheiro para consertar os buracos, os estudantes de Biologia vão consertar os buracos que conseguem”, diz Gabriel.

“Essa vai ser uma marca da ocupação”, afirma Gabriel Laurindo sobre a reparação das paredes com mosaicos. Foto: Malena Lima

Cíntia de Quadros Lopes, membro do GT de Articulação do Comando, afirma que o encanamento dos blocos não recebeu a vistoria final e, por isso, apresenta mau funcionamento. Ela relata que as capelas químicas, equipamentos utilizados para a manipulação de produtos químicos que produzem vapores, por vezes inodoros e prejudiciais à saúde, apresentam defeitos no encanamento. “Há a possibilidade de eu usar uma capela e aquele gás chegar na sala de outra pessoa”.

Segundo os estudantes, nos blocos A, B, C e D, é necessário o conserto de laboratórios e salas de aula com infiltrações, a vistoria da ventilação e a vedação das janelas. Um dos espaços mais precarizados é o Laboratório Multiusuário de Estudos em Biologia (LAMEB), no Bloco B, onde são realizadas a maioria das pesquisas. O ambiente corre risco de interdição pelas infiltrações de água, que expõem a integridade dos equipamentos, já antigos – conforme relato dos alunos. O laboratório atende mais de 500 universitários por semestre, entre pessoas do curso de Ciências Biológicas e da área da saúde. 

As reivindicações do Comando de Greve serão enumeradas em uma carta para assinatura do diretor do CCB, Alexandre Verzani, em assembleia, ainda sem data definida. Em seguida, a carta será entregue ao DCE.

O Fatual entrou em contato com o diretor do CCB, Alexandre Verzani, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Reunião ampliada do CCB, com professores, estudantes e diretoria, na quarta-feira (22). Foto: Acervo Pessoal/CABio

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