Marcha Nacional pelo Parto Humanizado ocorre em Florianópolis

Mobilização realizada em cerca de 30 cidades brasileiras defende maior protagonismo feminino no momento do parto

CAMILA BORGES

Cartazes reivindicando o direito de parir com respeito ocuparam o Parque de Coqueiros, região continental de Florianópolis, durante a manhã de domingo (21). A mobilização defendeu a autonomia das mulheres na tomada de decisões sobre o parto e a redução de intervenções médicas desnecessárias. Cerca de 100 pessoas participaram da manifestação realizada na capital catarinense.

A marcha nacional foi motivada após a ação ajuizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) ao Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe a atuação de enfermeiras obstétricas e de obstetrizes sem uma equipe médica e fora dos hospitais.

O parto humanizado é regulamentado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a organização, deve ser realizado um plano individual, em conjunto com a mulher durante a gestação, que determine onde e por quem o parto será realizado. A OMS também define que as decisões da mulher devem ser respeitadas e que a gestante precisa estar ciente de tudo que acontecer durante o parto.

Maristela Senz, médica obstétrica e uma das organizadoras da marcha em Florianópolis, explica que o parto humanizado é um tema de embate, pois empodera gestantes. “Os médicos perseguem o parto humanizado, pois não querem que outras formas de parir sejam inseridas. A classe médica não quer perder o poder diante da assistência obstétrica”.

Atualmente, a assistência obstétrica no Brasil é intervencionista e tecnocrática, aponta Maristela.


“98,99% dos partos no Brasil acontecem dentro desse modelo intra-hospitalar e obedecem às vontades do médico em detrimento das vontades da mulher. O movimento chamado de ‘humanização do parto’ tem a ‘humanização’ como um termo estratégico para substituir toda a violência obstétrica cometida”, afirma.


A importância da aprovação do Projeto de Lei 3946/2021 que busca legalizar a profissão das doulas, mulheres que dão suporte físico e emocional às parturientes, também foi debatida na marcha. Virginia Vianna atua como doula há mais de 10 anos e explica que a profissão não é regulamentada porque ameaça o poder da classe médica. “Eventualmente, diante de uma situação de violência obstétrica, as doulas confrontam os médicos. Uma funcionária do hospital, por exemplo, não tem poder para questionar”.

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realiza, há mais de 25 anos, o projeto Grupo de Gestantes e Casais Grávidos (GGCG) junto ao Departamento de Enfermagem e Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC/Ebserh).

Nos encontros são debatidos temas relacionados a aspectos físicos, emocionais e sociais da gravidez. Zaira Custódio, uma das coordenadoras do GGCG, explica que discussões sobre o parto humanizado perpassam todos os debates no grupo. “A maternidade do HU foi a primeira a realizar o parto humanizado em Santa Catarina. Então humanizar o parto é a nossa filosofia”, diz.

Os encontros do GGCG ocorrem nas quintas-feiras, das 14h às 17h no HU. Durante o ano são formados quatro grupos, de modo que cada grupo participa de oito encontros. Para participar do projeto é necessário fazer contato pelo telefone (48) 3721-8284 e aguardar a abertura de uma nova turma.

A empresária Diletta Ferroni, grávida, ao lado da enfermeira Tatiana Motinho. Foto: Leo Munhoz/ND

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