Transformações no mercado de trabalho jornalístico são tema de debate na UFSC

Sindicalistas debateram perfil dos jornalistas e perspectivas da profissão em evento que comemora 45 anos do Curso de Jornalismo da UFSC

CAMILA BORGES

O Curso, Departamento e Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) promoveu um debate com tema “as transformações do mundo do trabalho”, que abordou as condições precárias de trabalho e a necessidade de mobilização dos jornalistas no Brasil e em Santa Catarina. O evento ocorreu quinta-feira (11), no auditório Henrique Fontes do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), em Florianópolis.

Cerca de 100 pessoas estiveram presentes no encontro que fez parte da comemoração aos 45 anos do Curso de Jornalismo da UFSC, que coincide com a celebração do Dia Nacional do Jornalista, em 7 de abril. 

A mesa de debate foi composta por Celso Vicenzi, Fábio Bispo, Sérgio Murillo e Valmor Fritsche, ex-alunos do Curso de Jornalismo da UFSC com trajetória sindical. 

“Hoje a maior dificuldade do sindicato é reunir os jornalistas para fazer qualquer tipo de debate. Essa sala cheia, para nós, é um suprassumo”, afirmou o diretor do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC), Fábio Bispo, que destacou a dificuldade de mobilização da categoria.

A partir da pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro (2021), o ex-diretor do SJSC e da Federação Nacional de Jornalismo (FENAJ) Sérgio Murillo apontou a baixa remuneração, a sobrecarga de trabalho e os problemas psicológicos desenvolvidos pelos jornalistas brasileiros como as principais problemáticas trabalhistas ligadas à profissão atualmente.


De acordo com o estudo, 58% dos profissionais da categoria no Brasil são mulheres, brancas (68,4%) e solteiras (53%). A renda mensal de 60% dos entrevistados é inferior a R$ 5,5 mil por mês e apenas 12% recebem acima de R$ 11 mil. 


Sérgio Murillo discursa durante o evento. Foto: Júlia Cataneo

A pesquisa também aponta que 42,2% dos jornalistas trabalham mais de oito horas por dia e 3,2% dos entrevistados afirmaram trabalhar mais de 13 horas diariamente. Sobre a saúde mental dos trabalhadores, 20,1% dos entrevistados já foram diagnosticados com algum transtorno mental relacionado ao trabalho e outros 31,4% já receberam indicação para tomar antidepressivos.


O estudo foi liderado pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro/UFSC) e articulado nacionalmente pela Rede de Estudos sobre Trabalho e Profissão (RETIJ) da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Os professores de Jornalismo da UFSC Samuel Lima e Jacques Mick estão entre os coordenadores do estudo.

Livro O trabalho de jornalistas no Brasil: Desigualdades, Identidades e Precariedades, que pauta a pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro (2021). Foto: Júlia Cataneo


A graduanda Érica Zucchi do curso de Jornalismo da UFSC afirma que o tema do debate é importante para que os universitários conheçam a realidade da profissão no país. “A gente precisa saber da existência do Sindicato para nos organizarmos como classe e tentarmos reverter essa situação.”


A professora de Jornalismo da UFSC e presidente da comissão organizadora das ações em comemoração aos 45 anos do Curso, Tattiana Teixeira, avalia positivamente a adesão ao evento. “Fiquei extremamente surpresa com a participação expressiva. Há muito tempo não via aquele auditório lotado”.

Durante a discussão, também foi apontada a ausência de mulheres na mesa. Tattiana explicou que os debatedores foram escolhidos a partir do critério de terem ocupado, ou de ocupar, como no caso de Bispo, o cargo de presidente do Sindicato dos Jornalistas do estado.


“Diante desse parâmetro não era possível ter mulheres na mesa. Nunca tivemos uma mulher presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina. É muito significativo pensarmos o porquê nunca teve”, explicou.


A professora conta que, ao longo de 2024, atividades como exposição fotográfica, sarau, produção de documentário, escrita de livro e palestras com egressos serão planejadas para comemorar o aniversário do Curso. “O debate com os sindicalistas nos fez refletir sobre quem são os jornalistas na atualidade e qual é o espaço existente para os profissionais na área. É importante continuarmos refletindo sobre isso ao longo do ano”, afirma. 

Mesa debatedora formada com Áureo Moraes, Celso Vicenzi, Fábio Bispo, Sérgio Murillo e Valmor Fritsche. Foto: Júlia Cataneo

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