Crianças brasileiras estão mais altas e obesas, aponta pesquisa da Fiocruz

Professora da UFSC diz que dados se confirmam em estudo realizado em Florianópolis e explica como fatores socioeconômicos influenciam no aumento da obesidade infantil

CAMILA BORGES

Tempo e dinheiro são desafios enfrentados pelas mães brasileiras que tentam proporcionar uma alimentação saudável aos filhos. Juliana Xavier explica que ao tentar conciliar o trabalho e o cuidado dos filhos Yuri, 9, e Gabrielly, 2, muitas vezes a alimentação saudável é negligenciada. “Na escola tem horário para todas as refeições e em casa eu não tenho.” A mãe também conta que nem sempre é possível deixar frutas e verduras à disposição dos filhos devido ao custo dos alimentos.

O relato da Juliana vai ao encontro do estudo publicado na edição de abril da revista The Lancet Regional Health – Americas, que aponta o aumento da estatura e da obesidade entre crianças brasileiras. A pesquisa foi realizada no Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a University College London. 

Durante o levantamento, foram observados dados de mais de 5 milhões de crianças entre três e dez anos. Para análise foram estabelecidos dois grupos: nascidos de 2001 a 2007 e de 2008 a 2014. 

Os estudos apontaram que ocorreu o aumento médio de um centímetro de altura no grupo de nascidos de 2008 a 2014 em relação aos nascidos de 2001 a 2007. Ao comparar os dois grupos, as crianças apresentaram um aumento médio de 600 gramas.


A pesquisa revela que na faixa etária de cinco a dez anos, a prevalência da obesidade aumentou de 11,1% para 13,8% entre meninos e de 9,1% para 11,2% entre meninas. Na faixa etária de três a quatro anos de idade, foi apontado um aumento na obesidade de 4% para 4,5% entre meninos e de 3,6% para 3,9% entre meninas.


A prevalência da obesidade é um dado estatístico obtido a partir da divisão do número de crianças obesas pelo número total de crianças analisadas.

A pesquisa realizada pela Fiocruz reflete a realidade de Florianópolis, conforme aponta o Estudo de Prevalência da Obesidade em Crianças e Adolescentes (Epoca), realizado pelo Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 


De acordo com o estudo, em 2019, houve um aumento de 44% na prevalência da obesidade nas crianças de sete a 14 anos em relação ao primeiro levantamento, feito em 2002. O Epoca coletou amostras de 2.880 alunos de 30 escolas públicas e privadas de ensino fundamental em Florianópolis.


A professora de nutrição da UFSC Patrícia Hinnig, que fez parte da pesquisa do Epoca, explica que fatores socioeconômicos estão relacionados ao aumento da obesidade. “As mães acabam dando aos filhos alimentos ultraprocessados, porque são mais rápidos de preparar e possuem menores preços em relação aos alimentos in natura”.

Patrícia ressalta que, de acordo com a Epoca, a prevalência de obesidade é maior nas escolas públicas devido à realidade financeira das famílias. “A menor renda dificulta o acesso aos alimentos saudáveis e à prática de exercícios físicos”, explica. 

Em Florianópolis, a UFSC possui uma política de assistência estudantil que contribui para alimentação saudável dos filhos das estudantes da Universidade em vulnerabilidade social. As universitárias que são mães e possuem crianças de até 12 anos incompletos têm acesso, por meio da Pró-Reitoria de Permanência e Assuntos Estudantis (PRAE), ao Restaurante Universitário (RU) de maneira gratuita para si e para seus filhos. 

 A estudante Betina de Sá, do curso de Letras – Língua Portuguesa e Literaturas da UFSC, conta que a entrada gratuita ao RU é um benefício importante para ela e seu filho, Ícaro, 11. 


“Levar o Ícaro no RU foi uma solução para mim. Foi uma das cargas mais pesadas que saíram da minha rotina. Cozinhar leva muito tempo, sem contar o valor da comida que é muito caro”.


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