Mais de 200 pessoas foram ouvir Jones Manoel na UFSC
Soberania nacional só virá através de organização política, disse palestrante
LETICIA LAURA
Mesmo com chuva, centenas de pessoas se reuniram na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), campus Trindade, para ouvir o historiador e militante comunista Jones Manoel. O palestrante, que tem 1,6 milhões de seguidores no Instagram, falou sobre “A ofensiva imperialista contra o Brasil e a luta por soberania nacional”. O evento aconteceu às 13h de segunda-feira (6), na parte externa do Bloco A do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). A organização foi do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário de Santa Catarina (PCBR-SC) e da União da Juventude Comunista em Santa Catarina (UJC-SC).
“A economia funciona a partir da superexploração da força de trabalho. No Brasil, 70% da classe trabalhadora ganha até dois salários mínimos”, discursou Jones. Segundo o historiador, o imperialismo contemporâneo não se expressa apenas por meio de guerras ou invasões, mas por mecanismos econômicos e financeiros que mantêm os países periféricos presos à exportação de matérias-primas e à importação de bens de alto valor agregado. “É o velho esquema colonial atualizado para o século XXI”, resumiu.

O palestrante associou esse processo ao que chamou de aliança entre o capital estrangeiro e a burguesia interna, que, ao seu ver, é responsável por frear qualquer projeto nacional. “Não existe nenhum projeto de industrialização, de autonomia tecnológica e de desenvolvimento do país puxado pela burguesia brasileira. Essa burguesia nasce, cresce e se desenvolve numa posição de dependência da hegemonia dos Estados Unidos”, afirmou.
Para Jones, o novo arcabouço fiscal, que limita o aumento das despesas públicas a 2,5% ao ano, é o exemplo mais recente dessa dependência. “Essa política fiscal fragiliza a soberania nacional, porque reforça o papel do Brasil como um mero consumidor, que não tem capacidade de investir no desenvolvimento de tecnologias próprias”, argumentou.
O estudante de cinema Samuel Torres, de 21 anos, saiu esperançoso do evento: “Ver o varandão lotado me deu vontade de pensar um cinema mais revolucionário”. Já Wesley Córdova, 22, do curso de Serviço Social, criticou o horário do evento. “Foi um equívoco total, porque a classe trabalhadora não pode participar neste horário (13h)”, disse. O ex-aluno de Direito Bruno Chemin, 43, afirmou ter se surpreendido positivamente com a mobilização. “Não escutei grandes novidades, mas é importante ver a resistência continuar crescendo”.
Ao encerrar a palestra, Jones insistiu que a soberania nacional é inseparável da luta de classes: “Enquanto a burguesia brasileira for associada ao capital estrangeiro, o Brasil continuará exportando minério e importando tecnologia”. Para o palestrante, a luta por soberania envolve reconstruir a indústria, recuperar o controle sobre recursos naturais e fortalecer as instituições públicas.
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