Laboratório da UFSC inicia restauração de livros congelados após enchentes no RS
Restauração total do acervo deve levar ao menos dois anos
RAISSA HÜBNER
Um caminhão refrigerado com cerca de 230 livros e documentos congelados chegou na segunda-feira, 30/9, ao Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos (Labcon) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Os materiais vieram da Biblioteca Pública de Camaquã (RS) e do Museu de Igrejinha (RS), cidades atingidas pelos alagamentos no Rio Grande do Sul em maio deste ano, e são importantes para a história dos municípios.

Em uma primeira avaliação, os documentos chegaram bem conservados. No sábado (5), começou o processo de recuperação do acervo. O coordenador do Labcon, Cezar Karpinski, explica que o processo de restauração de um documento geralmente já é lento, mas no caso das cidades atingidas pelas enchentes, o processo se alonga. “Além da restauração, existe uma preparação para o tratamento, que inclui pesquisa, descongelamento e secagem”, esclarece o coordenador. No momento, a equipe composta por 15 membros está na fase de pesquisa, e deve levar dois anos para concluir a restauração do material.
Karpinski informa que um documento não pode ficar mais do que 48h molhado sem que haja proliferação de microorganismos. Durante as enchentes, os municípios foram orientados a usar o método de congelamento para preservar seus acervos, que impede a propagação de fungos no papel úmido e permite que o material seja restaurado no futuro. Esse método exige que o papel seja selado a vácuo, porém as cidades não tinham as embalagens certas para isso e tiveram que improvisar: usaram sacos de lixo preto, tiraram todo o ar com um aspirador e selaram os pacotes.

Em Camaquã, os arquivos foram mantidos com um fazendeiro local a mais de 20 graus negativos em seu freezer. No início de setembro, foram transportados de caminhonete para Igrejinha e ficaram em um frigorífico até a semana passada, quando chegaram ao Campus Trindade da UFSC. São cerca de 80 documentos de Camaquã e 150 de Igrejinha, além de mais 50 livros secos que precisam passar igualmente pelo processo de restauração, também de Igrejinha.
A Biblioteca Municipal de Camaquã fica em um ponto alto da cidade. Mesmo assim, quando as chuvas se intensificaram no estado, o telhado antigo da biblioteca rebaixou, as goteiras aumentaram e a água escorreu pelas paredes, comprometendo o acervo de livros e documentos históricos, informa o bibliotecário Jean dos Santos. Em Igrejinha, a situação foi mais preocupante. Segundo a Prefeitura, a biblioteca do museu perdeu 90% de seu acervo. O que não foi comprometido consiste, principalmente, em partituras musicais que estão sendo restauradas pelo Laboratório.


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