Candidatos à prefeitura de Florianópolis discutem sobre internação involuntária de pessoas em situação de rua
Alunos do curso de Jornalismo da UFSC perguntaram sobre tema em entrevista da rádio universitária
ANA CAROLINA RODRIGUES
Os nove candidatos a prefeito para as eleições municipais de 2024 foram entrevistados por estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As propostas eram referentes à internação involuntária de pessoas em situação de rua em Florianópolis. O debate ocorreu na rádio universitária Rádio Ponto UFSC, no Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da UFSC, no campus Trindade, dos dias 26 a 30 de setembro.
Em fevereiro deste ano, a Prefeitura Municipal de Florianópolis sancionou a lei 11.134/2024, que permite a internação involuntária de pessoas em situação de rua com transtornos mentais ou usuárias de drogas. De acordo com o projeto de lei, a medida é chamada de internação humanizada e é referente a pessoas com dependência química ou com transtornos mentais, com prejuízos à capacidade mental, o que limita a tomada de decisões e a emitir opiniões.
A Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública de Santa Catarina já se manifestaram contra o texto, declarando que “não é capaz de alcançar os fins a que se propõe, além de violar a ordem legal e constitucional”.
Topázio Neto (PSD), atual prefeito de Florianópolis, explicou que o programa foca a solução no indivíduo. “A internação involuntária se trata de um ato arbitrário da prefeitura. É um ato médico focado na sobrevivência daquela pessoa que não consegue mais tomar decisão por conta própria. Muitas vezes, levamos ao psiquiatra e o profissional não manda internar”, justifica.
O candidato Marquito (PSOL) associou a questão ao déficit habitacional em Florianópolis. Como fatores que aumentam a segregação social no município, ele citou a ausência de programas de habitação social nos últimos oito anos e o aumento de aluguel. Segundo o Índice FipeZap, Florianópolis tem o segundo aluguel mais caro entre as capitais, atrás apenas de São Paulo. Em agosto deste ano, o metro quadrado valia R$53,81.
“A primeira medida é implementar programas de habitação social com investimentos municipais e federais. Em seguida, utilizar prédios públicos para habitação coletiva. Também será implementado o programa Casa Primeiro, que garante moradia e apoio na formação profissional para pessoas em situação de rua”, aponta Marquito.
Pedrão (PP) declarou-se a favor da internação involuntária e compulsória. “Indivíduos sob o efeito de álcool e drogas pesadas abandonaram suas famílias, vidas e empregos para viver em função da droga. É dever do Estado, com autorização médica e judicial, intervir”, afirmou o candidato.
De acordo com o G1, 800 pessoas foram identificadas em situação de rua em 2017 na cidade de Florianópolis. Dessas, 80% eram usuárias de drogas.
Portanova (Avante) destacou que o município aprovou o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social em 2012 e que no documento estava todos os elementos necessários para a habitação, mas que não foi colocado em prática.
O candidato do Avante defendeu que os moradores de rua devem ser tratados de forma diferenciada. Não é expulsar todo mundo, nem colocar todos em um hospital. Não são todos que estão envolvidos com drogas ou são violentos”, declarou Portanova.
Brunno Dias (PCO) alegou que a internação involuntária é um absurdo. “Você não pode dar poder para o Estado pegar as pessoas à força para colocar em qualquer lugar que seja. Moradores de rua, pessoas viciadas em drogas, todo esse problema é um problema social”. Brunno reitera que o partido PCO defende a legalização da ocupação de prédios desocupados ou abandonados.
Lela (PT) avalia que a prefeitura falha em oferecer assistência social adequada e que as abordagens para as pessoas em situação de rua são feitas por empresas terceirizadas sem experiência. Destacou ainda a importância de diagnosticar e separar os diferentes problemas enfrentados por essa parcela da população.
“Precisamos fazer um levantamento da situação em toda a cidade. É fundamental ter assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras, com a estrutura necessária para realizar abordagens diárias e encaminhar a pessoa para as políticas sociais adequadas”, propôs Lela.
Mateus Souza (PMB) anunciou que planeja formar cinco equipes de médicos, psicólogos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para atendimento das pessoas em situação de rua. Após, será criado um cadastro para coletar informações desse grupo.
“Criar um cadastro para inserir o nome dessas pessoas, ver de onde é que elas vieram, porque estão na rua, se têm antecedentes criminais. Porque muitas hoje estão na rua, umas são criminosas e outras são pessoas boas, que não tiveram oportunidade ou se perderam na vida”, argumenta Mateus.
Dário Berger (PSDB) criticou a falta de ação da prefeitura em relação às pessoas em situação de rua. “O que está faltando, na verdade, é um posicionamento mais objetivo e mais concreto”, declarou.
Carlos Muller (PSTU) afirmou que é contra a internação involuntária e a forma como a sociedade lida com pessoas em situação de rua. “É como se meramente o indivíduo que vai ser internado compulsoriamente fosse o culpado”, relatou.
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