Documentário dirigido por aluna de Jornalismo da UFSC expõe resistência de mulheres indígenas Kaingang

“Mulheres araucárias” é primeiro documentário feito inteiramente por indígenas no Sul do Brasil

MAITÊ SILVEIRA

“Fortes e resistentes como araucárias”: assim são chamadas as mulheres indígenas Kaingang no documentário Mulheres Araucárias, relançado na sexta-feira (5), no auditório do Bloco B do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Com roteiro e direção da estudante indígena de Jornalismo da UFSC Vanessa Fe Há, a produção expõe a luta diária de três gerações de mulheres Kaingang.

O lançamento oficial aconteceu na quinta-feira (4), no Museu Paranaense (MUPA), em Curitiba. A exibição na UFSC fez parte da programação do Abril Indígena, evento organizado pelo coletivo indígena da Universidade em parceria com o Laboratório de História Indígena (Labhin) do curso de História.

Mulheres Araucárias é o primeiro documentário feito inteiramente por indígenas no Sul do Brasil, com o apoio executivo do Movimento Indígena e da Fundação Luterana de Diaconia-Conselho de Missão entre Povos Indígenas (FLD-COMIN).

Maria, Jociele e Tayla são as personagens principais na narração da “caminhada” da reserva indígena no Paraná até a III Marcha das Mulheres Indígenas, que ocorreu em 2023, em Brasília. Foram 15 dias de filmagens e seis meses de produção e edição para chegar na versão final de 18 minutos, disponível no YouTube


O documentário mostra as diferentes relações que as indígenas têm com seus territórios. “Assim como o tronco da araucária é forte, as Kaingang também são. Mas, no Brasil, também existem as mulheres mangueiras, as mulheres cajueiros e as mulheres ipê”, conta Vanessa.


Ao mostrar a conexão da natureza com a tradição indígena, o documentário coloca a araucária sob outra perspectiva. “Eu conhecia a araucária somente pela visão branca. É essa a provocação do documentário. Ele propõe um olhar diferenciado da realidade”, comenta o graduando em Antropologia da UFSC Vagner Nascimento.

A araucária (Araucaria angustifolia) é uma árvore típica das regiões de altitudes elevadas da Mata Atlântica e predomina no Sul do Brasil. Chamada de fág pelos Kaingang, faz parte da subsistência ao gerar o pinhão, alimento de alto valor nutricional, e também da mitologia. 

Segundo Vanessa, além de representar o equilíbrio das forças vitais, é em torno da fág que os indígenas compartilham seus saberes. As Kaingang se identificam com a araucária pois, assim como a árvore, produzem frutos e nutrem o espírito da comunidade.

A estudante destaca que combater o apagamento histórico dos indígenas deve ser um dos objetivos do jornalismo. “A nossa primeira resistência foi na flecha. Agora, é na caneta e no audiovisual”.

Exibição do documentário faz parte da programação do Abril Indígena na UFSC. Foto: Samara Vatxug Camlem

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