Primata extinto há dois séculos será reintroduzido em Florianópolis

Seis famílias de bugio-ruivo serão vacinadas contra febre-amarela e devem ser liberadas em áreas de preservação

LUIZA FEPPE

Filhotes de bugios ruivos, nascidos em 2020, serão a primeira espécie no processo de refaunação de Florianópolis e devem voltar à mata nativa até o final do primeiro semestre de 2024. Segundo o Programa Silvestres SC, responsável por reintroduzir os animais em extinção aos seus habitats, os filhotes nasceram sob a supervisão do projeto, após a recuperação de dois bugios mantidos em cativeiro, em Florianópolis. Através das redes sociais, o programa divulgou na terça-feira (7) a conquista da primeira aprovação para a reintrodução da espécie no ecossistema.

O bugio-ruivo (Alouatta guariba) é encontrado predominantemente na Mata Atlântica, entre os estados Espírito Santo (ES) e Rio Grande do Sul (RS), se estendendo até o norte da Argentina. Em dados publicados pelo Primates in Peril (Primatas em Perigo), o bugio era um dos primatas mais ameaçados de extinção no mundo entre 2022 e 2023.

A principal ameaça para esses animais é a febre-amarela. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Minas Gerais a população de bugios, que era composta por mais de 500 guaribas, foi reduzida a menos de 3% em 2017, devido à doença infecciosa.

Coordenadora-geral do Programa Silvestres SC, a bióloga Vanessa Kannan diz que a espécie é considerada extinta localmente, com o último registro sendo de 1763, há mais de dois séculos. “O desmatamento e a caça são dois fatores importantes. A repovoação é mais complicada devido às barreiras da ilha de Santa Catarina, elas não permitem que algumas espécies extintas possam acasalar com a população de primatas no continente”, diz a pesquisadora.

De acordo com o instituto Espaço Silvestre (IES), o projeto de reintrodução dos bugios começou em 2019 e ainda passa por processos burocráticos de autorização. Os primatas são tratados pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas – SC), responsável pela recepção, avaliação e reabilitação. Segundo Vanessa, antes de serem reintroduzidos, os macacos passarão por uma etapa de vacinação contra a febre-amarela e reconhecimento de área, nos locais de preservação.

Em nota, o Programa Silvestres SC afirma que todos os bugios escolhidos foram avaliados por critérios de comportamento e saúde, para que a espécie consiga sobreviver e se reproduzir adequadamente. Ao total, seis famílias de dois a três integrantes de bugios ruivos devem ser liberadas.

A espécie será reintroduzida em duas áreas de proteção ambiental, uma ao norte e outra ao sul da ilha, a princípio no Parque Estadual do Rio Vermelho e no Monumento Natural da Lagoa do Peri.

Maurício Graipel, professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que a reintrodução dos primatas será fundamental para a dispersão de sementes e equilíbrio da cadeia alimentar entre populações de diferentes espécies. “É possível que os bugios exerçam controle biológico em relação às espécies exóticas invasoras com potencial de competição por recursos similares”.

Foto publicada nas redes sociais do Programa Silvestres SC divulgando a reintrodução dos primatas. Foto: Daniel de Granvile (@silvestres.sc)

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