Biografia de jornalista censurada é tema de aula inaugural da UFSC

“Jurema Finamour, a jornalista silenciada” é o primeiro livro não acadêmico da pesquisadora Christa Berger

IARA ROCHA

“Como nunca ouvi falar em Jurema, nem vi referência aos seus livros?”, indagou a jornalista Christa Berger durante aula inaugural na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A pergunta sintetiza o tema do evento, o  livro Jurema Finamour, a jornalista silenciada, em que Christa relata o apagamento histórico das criações e vida da jornalista Jurema Finamour. 

Cerca de 80 alunos e professores assistiram à aula, organizada pelos programas de pós-graduação em Jornalismo (PPGJor) e em Literatura (PPGLit) e pelo Departamento de Jornalismo. O evento ocorreu  quinta-feira (31), no Auditório Henrique Fontes do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), em Florianópolis.

Nos anos 1960, Christa leu o livro Vais Bem Fidel escrito por Jurema, e depois de 50 anos não encontrou mais o nome da autora em outros textos. A falta de informação levou Christa a apurar os fatos biográficos e obras da jornalista. Com os dados, descobriu também o motivo do seu apagamento na história do jornalismo.

A escritora afirmou que Jurema foi perseguida e exilada durante a ditadura civil-militar de 1964 por trabalhar em jornais de esquerda. Christa contou que apurar as informações perdidas neste período é necessário, principalmente do trabalho de mulheres.


“Tirar nossas antecessoras do esquecimento é um passo importante”, relata a jornalista. “O registro da história é masculino. Quem documentou a cultura brasileira foram os homens, mas as mulheres sempre escreveram.”


A jornalista Christa Berger foi professora e pesquisadora nas faculdades de Comunicação da PUCRS, UFRGS e Unisinos, e atualmente é uma das mais importantes pesquisadoras e autoras sobre comunicação e jornalismo no Brasil. A apuração e escrita da biografia de Jurema, primeiro texto não acadêmico de Christa, levou quatro anos.

O plano inicial era a escrita de um perfil, mas tornou-se biografia pela grande quantidade de informações e dados levantados. A Internet e os arquivos digitais foram grandes aliados, ao permitirem o acesso a livros esquecidos e desaparecidos. A maioria dos textos levantados datam das décadas de 50 e 60, entre escritos jornalísticos diversos, romances, livros de viagem e de culinária.

Jurema participou ativamente da política brasileira de sua época e escreveu os primeiros livros brasileiros sobre a União Soviética, China, Coreia e Cuba. “Ela tinha a escrita como ato de resistência”, diz Christa. 

Christa Berger com os professores Jorge Hoffmann Wolff, à direita, e Carlos Augusto Locatelli, à esquerda. Foto: Isadora Lizandra Alves

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