Seminário evidencia falta de políticas públicas para população imigrante em Florianópolis

Iniciativa faz parte da comemoração da Semana do Migrante e Refugiado 

FELIPE PAZE

A xenofobia na capital catarinense, a escassez de atendimento especial para a população em refúgio e as dificuldades da vida universitária para os imigrantes na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram temas discutidos no seminário “Migrações, Refúgios e Deslocamentos Humanos”. O evento aconteceu na sexta-feira (13), às 14h, e foi uma realização do projeto UFSC Sem Fronteiras. No auditório do Bloco E do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da universidade, em Florianópolis, pesquisadores, membros de programas de apoio e alunos imigrantes integraram as mesas de debate.

A professora e diretora do Observatório de Migrações de Santa Catarina, Glaucia de Oliveira Assis, abriu o seminário apresentando o Atlas das Migrações Internacionais em Santa Catarina no Século XXI, pesquisa mais recente do observatório. O estudo, que aponta mais de 116 mil imigrantes vítimas de crises humanitárias, será lançado oficialmente em agosto e traz um perfil da crescente população imigrante do estado. Na Grande Florianópolis e no Vale do Itajaí, por exemplo, residem aproximadamente 24 mil imigrantes em cada região.

A professora apresenta o atlas, que aponta mais de 116 mil imigrantes vítimas de crises humanitárias em SC. Foto: Felipe Paze

Com caráter mais humanitário, o atlas se destaca de grande parte de pesquisas catarinenses que ainda abordam o tema com uma visão europeia e colonialista, afirma a professora. As populações migrantes mais expressivas vêm da Argentina, Venezuela, Colômbia e Angola. Segundo o estudo, SC também é o destino de chineses, estadunidenses, peruanos, chilenos, e paraguaios.

Glaucia pôs em discussão a falta de locais de atendimento público para essa população. O Centro de Referência e Acolhimento para Imigrantes e Refugiados (CRAI), inaugurado no centro de Florianópolis em 2018, fornecia apoio jurídico, profissional e psicológico em casos imigratórios. A Prefeitura Municipal desativou o centro em setembro de 2019, alegando falta de recursos para manter o funcionamento. 

Desde então, o acolhimento ao migrante está sob responsabilidade do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREA). A disponibilidade de intermediadores culturais (pessoas que fazem a ponte entre o migrante e o servidor) não é garantida nestes locais. “O CRAS e o CREAS fazem a sua parte, mas existe a carência de um centro de referência específico aos imigrantes e refugiados em Florianópolis”, defende Glaucia.

Para o presidente da Associação de Estudantes Guineenses, Rumão Na Isna, a falta de um centro único exige que os atendimentos sejam dependentes de organizações não governamentais, como o Círculos de Hospitalidade, em que é atuante. O projeto auxilia os imigrantes a recomeçarem a vida no Brasil, com ações de orientação legal, acolhimento psicológico e integração. O serviço mais procurado é o apoio na regularização de documentos imigratórios na Polícia Federal, processo que pode levar até três meses. “Sem a documentação o imigrante não consegue abrir nem uma conta no banco”, diz.

Rumão explica as ações do Círculos de Hospitalidade, que atende mais de 17 mil pessoas beneficiadas pelo projeto, de 83 nacionalidades. Foto: Felipe Paze

O relatório anual da Círculos indica mais de 17 mil pessoas beneficiadas pelo projeto, de 83 nacionalidades. Outras possibilidades de auxílio documental são o Escritório Scalabrini de Atenção ao Migrante (ESAM) e a Defensoria Pública da União (DPU), além de iniciativas voltadas ao acolhimento que partem dos próprios migrantes, como a Associação dos Angolanos em Florianópolis (Assaf).

O seminário trouxe ainda mesas e apresentações culturais com estudantes imigrantes, refugiados e internacionais da universidade. O evento foi uma comemoração do UFSC Sem Fronteiras para a Semana do Migrante e Refugiado, que acontece de 19 a 23 de junho.  A data foi oficializada pela Lei nº 14.678 no Brasil, em 2023, que busca trazer visibilidade e possibilitar discussões sobre a imigração humanizada.

Doutoranda em enfermagem da UFSC, Sabado Gomes Dabó, apresenta respostas de formulário preenchido por estudantes da Guiné Bissau sobre a vida universitária. Foto: Felipe Paze

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