Cigarros eletrônicos têm substância com potencial de dependência, alerta estudo
Octodrina foi detectada em dez diferentes dispositivos testados
MARIA EDUARDA FURLANETTO
Estudo preliminar realizado pelo Laboratório de Pesquisas Toxicológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Polícia Científica de Santa Catarina (PCI), detectou a presença de octodrina em dez diferentes dispositivos de cigarros eletrônicos.
A pesquisa integra um Protocolo de Intenções assinado em 10 de abril deste ano, que estabelece uma colaboração entre a Universidade e a Polícia Científica em ações de caráter técnico, científico e cultural.
Com propriedades similares às da anfetamina, a octodrina é um estimulante do Sistema Nervoso Central com potencial de dependência e de risco cardiovascular. Mesmo com os possíveis danos à saúde, a substância não está descrita no rótulo dos cigarros eletrônicos.
A coordenadora do estudo e professora do Departamento de Patologia da UFSC, Camila Marchioni, ressalta que o usuário não tem conhecimento do que está consumindo.
“O cigarro eletrônico é proibido e o que circula no país é ilegal, portanto, sem controle de qualidade”, explica Camila.
O número de usuários de cigarros eletrônicos aumentou aproximadamente 31,8% no Brasil em um ano, segundo dados da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec). A pesquisa mostra que 2,2 milhões de brasileiros fizeram uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) em 2022. No ano seguinte, esse número saltou para 2,9 milhões.
Além da octodrina, todos os cigarros eletrônicos analisados apresentaram em sua composição flavorizantes – responsáveis por dar sabor e aroma – , propilenoglicol, glicerina e nicotina. Outro ponto indicado pela pesquisa é que, com o aquecimento desses componentes, podem ser produzidas mais substâncias nocivas.
Segundo Camila, não está esclarecido quais são todos os compostos, mas já foram identificadas mais de 2 mil substâncias tóxicas, incluindo compostos orgânicos e inorgânicos, como metais.
Para a perita criminal Maria Luiza Cordioli, há a necessidade de pesquisas contínuas e medidas regulatórias mais rigorosas, especialmente devido à expansão do consumo de cigarros eletrônicos e aos riscos que eles representam para a saúde pública. “Estamos alinhando a ampliação desses estudos em parceria com a Univille e a UFSC”, informa.
De acordo com Camila, há um projeto em andamento no Programa de Pós-graduação em Farmacologia da UFSC que planeja analisar o vapor dos cigarros eletrônicos para entender melhor sua composição e avaliar o real risco do uso.
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