Estudo encontra cocaína em tubarões
Treze tubarões-bico-fino registraram concentrações 100 vezes maiores da droga em relação a outros animais marinhos
PEDRO FATTAH
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) encontrou resíduos de cocaína e benzoilecgonina em tubarões-bico-fino, no litoral do Rio de Janeiro. Todas as análises testaram positivo para cocaína e os animais apresentaram uma concentração cerca de 100 vezes maior do que em outras espécies aquáticas.
O estudo foi realizado a partir da análise de 13 tubarões-bico-fino. A equipe processou os tecidos do músculo e do fígado e fez a extração dos componentes com reagentes químicos. Depois, os resíduos foram injetados num equipamento que se chama cromatógrafo. Para finalizar, os pesquisadores fizeram uma curva padrão desses compostos para conseguir ter uma quantificação final dos contaminantes que podem estar presentes.
A pesquisa é uma parceria entre a UFSC, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Seção Laboratorial Avançada (SLAV/SC) do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-RS). O caso foi publicado neste mês no periódico Science of the Total Environment.
A equipe da UFSC foi composta pela professora Silvani Verruck e pelo estudante de pós-graduação Luan de Oliveira, ambos do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos. O professor externo da Pós-Graduação da UFSC Rodrigo Hoff estava pela SLAV/SC.
A pesquisa aponta várias possibilidades para o ocorrido e ressalta o alto consumo de cocaína no Brasil, segundo país que mais usa a substância no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Algumas hipóteses são a contaminação pelo excremento de usuários de drogas, pelo esgoto não tratado, pela drenagem de laboratórios ilícitos que produzem cocaína ou por pacotes de droga que foram perdidos no mar.
De acordo com os especialistas, apesar de no mundo existirem ocorrências de drogas ilícitas presentes no pescado, o caso preocupa mais por ser a primeira vez que esses resíduos são encontrados em tubarões.
A professora e pesquisadora Silvani Verruck explica que, como esses animais estão no topo da cadeia alimentar, as espécies abaixo na hierarquia provavelmente também estão contaminadas e, dessa forma, há dano no ecossistema inteiro.
Segundo Silvani, não existem muitos estudos sobre os efeitos das drogas nos tubarões, mas há hipóteses de consequências nos quesitos reprodutivos e neurológicos dos animais.
Ela destaca a necessidade de uma repercussão maior do assunto para que os órgãos regulatórios estabeleçam limites mínimos de resíduos nos alimentos de pescado. As limitações existem para vários contaminantes clássicos, como metais pesados, medicamentos veterinários e agrotóxicos.
Para contaminantes emergentes, como alguns tipos de medicamentos, produtos de higiene pessoal e limpeza, drogas ilícitas e filtros solares, ainda não há um limite estabelecido. “Nós precisamos gerar dados para que o Ministério da Agricultura entenda que isso é preocupante, para inserir no escopo deles de análise”, afirma.
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