Novo PAC não inclui curso de Medicina da UFSC em Curitibanos

Apesar de autorizar criação do novo curso, Ministério da Educação não emprega recursos para a implantação do projeto

MAITÊ SILVEIRA

Quando chega a semana de provas, o laboratório de anatomia no Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde (CTS), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do campus Araranguá, fica lotado. Somente três corpos estão disponíveis para os estudos dos alunos dos cursos de Medicina e Fisioterapia. No campus Curitibanos, a comunidade aguarda a finalização de um novo prédio, que tinha conclusão prevista para novembro de 2020.

Apesar de autorizar um curso novo de Medicina da universidade em Curitibanos, em 15 de abril, o Ministério da Educação (MEC), por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não emprega recursos para a implantação do projeto. Anunciado em 10 de junho, o PAC é a resposta do Governo Federal às reivindicações de recomposição orçamentária das universidades federais feitas pelo setor – com categorias que entraram em greve entre março e julho.

Conforme o diretor do campus de Curitibanos, Juliano Wendt, dos R$ 5,5 bilhões totais do PAC, nada foi designado à unidade até o momento. Wendt defende que o novo curso trará melhorias para a rede de saúde do município e da região, mas manifesta preocupação com o custeio de manutenção futura.


“Vamos aumentar contratos de limpeza, vigilância e cabeamento de Internet. Mas não sei se haverá um aumento do repasse de verba”, diz.


Atualmente, o PAC contempla a aquisição de um prédio próprio no campus em Blumenau, além de obras no Hospital Universitário e verbas para manutenção do Restaurante Universitário, ambos em Florianópolis.

Em vídeo publicado nas redes sociais da UFSC na quinta-feira (27), o reitor Irineu Manoel de Souza reforça que segue dialogando com o MEC para “reiterar as necessidades urgentes da universidade”. Irineu afirma que a infraestrutura dos cursos de Medicina em Araranguá e Curitibanos são prioridades e serão pautadas em nova reunião com o MEC na quarta-feira (3).

Para Wendt, o espaço físico em Curitibanos é uma questão alarmante. A construção do Bloco 02 de Salas de Aula e Laboratórios (CBS-02) do campus foi iniciada em 2015 e tinha previsão de entrega para novembro de 2020. A obra, no entanto, segue sem conclusão.

CBS-02 tem 95% da construção pronta, sem conclusão. Prédio deve abrigar novo curso de Medicina em Curitibanos, mas não suprirá todas as necessidades. Foto: Paulo Noronha/Agecom UFSC

De acordo com a diretora do Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia (DPAE) da UFSC, Fabrícia Grando, o CBS-02 está em fase de reelaboração dos projetos para posterior licitação e finalização.


“Por conta da greve dos servidores técnicos, os projetos paralisaram novamente. Até a abertura do curso em março de 2025, é certeza que o prédio não estará pronto”, afirma.


Wendt afirma que o CBS-02 não suprirá todas as demandas do curso de Medicina e que a administração busca alternativas. “Há possibilidade de alugar outra estrutura. Também estamos discutindo com a prefeitura municipal sobre a cedência de um espaço”, aponta. O diretor também alerta que “sem a conclusão do prédio próprio, vai chegar num ponto de estrangulamento da unidade”.

No campus de Araranguá, o prédio utilizado pelos estudantes de Medicina é alugado, o que dificulta a realização de melhorias. Uma estudante – que optou por não se identificar – ressalta a falta de acessibilidade da estrutura.


“A secretaria tenta alocar as salas do térreo para as pessoas com deficiência (PcD), pois elas não conseguem acessar os pisos superiores”, revela.


Mensalmente, a UFSC gasta R$ 110.867,97 com o aluguel do imóvel em Araranguá, de acordo com dados da Secretaria de Planejamento e Orçamento (SEPLAN). No campus de Joinville, a locação custa R$ 612.190,95 mensais e em Blumenau, que terá sede própria a partir do PAC, R$ 193.545,02.

Já em Florianópolis, as fases iniciais de Medicina utilizam o laboratório de anatomia do Departamento de Morfologia do Centro de Ciências Biológicas (MOR-CCB), junto a outros dez cursos. Aproximadamente mil alunos passam semanalmente pelo MOR, localizado em um prédio construído na década de 60. 

Os técnicos em anatomia Lívia Andrade, Thiago Rocha e Christopher Christofoletti destacam as goteiras, infiltrações, alagamentos esporádicos e ausência de manutenção em equipamentos na unidade. Segundo eles, a insegurança, a falta de iluminação noturna e a pouca vigilância contribuem para um cenário de roubos e furtos que se repetem com frequência. 

De acordo com o subcoordenador do Curso de Medicina da UFSC em Florianópolis, Antônio Reis De Sá Junior, quando os alunos passam a frequentar o Bloco Didático, prédio próprio do curso, as condições melhoram. “Por ser uma construção nova, é uma situação privilegiada. Nós estamos em uma bolha dentro da UFSC”. 

Antônio ressalta as verbas elevadas que um curso de medicina demanda.


“Nesse momento de escassez geral de recursos, abrir um novo curso não me parece uma decisão prudente”, opina.


Por meio da assessoria, a reitoria da UFSC defende que não se trata de priorizar um novo curso em detrimento de outros já existentes. “Cabe destacar que a instalação de um novo curso de Medicina em nada interfere no atendimento das demandas dos outros cursos já implantados. As demandas de infraestrutura, equipamentos, docentes e técnicos são comuns a vários cursos da UFSC. A Reitoria tem procurado atender a essas demandas de acordo com as disponibilidades orçamentárias”.

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