Texto de Walter Benjamin é tema de atividade de greve na UFSC

Oficina realizada por alunas e professor do curso de Letras – Língua Portuguesa e Literaturas relaciona análises do autor ao atual contexto grevista na Universidade

CAMILA BORGES

“Não estamos em uma greve contra a destruição completa da Universidade, mas em uma greve muito importante para que isso não aconteça”, disse o professor Tiago Pinheiro em atividade de greve sobre o texto Para a crítica da violência (1921), de Walter Benjamin. A oficina ocorreu na quarta-feira (22) na Sala Hassis do Bloco B do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.

Durante o encontro, foram discutidas as relações entre o texto e a greve na Universidade. O ensaio retrata as reflexões do autor diante das experiências de greve na Europa nas primeiras décadas do século XX.

Cerca de 20 estudantes estiveram presentes na oficina organizada pelas alunas do Curso de Letras – Língua Portuguesa e Literaturas Ana Santiel e Milena Piccoli, com apoio do professor de Teoria Literária da UFSC Tiago Pinheiro. De acordo com o professor, a greve é um momento de parada para repensar a agenda universitária.


“Parte da potência das greves reside nessas atividades que, por mais humildes e pontuais que possam parecer, funcionam como lugares para a experimentação, para o não pensado”, explica.


Benjamin foi um crítico literário, ensaísta, sociólogo e filósofo judeu ligado à Escola de Frankfurt. No texto Para a crítica da violência, são debatidas as relações entre direito, justiça, violência e poder na sociedade contemporânea. 

Durante a oficina, Tiago destacou o conceito de “greve geral” discutido no ensaio. Para Benjamin, quando uma greve começa com reivindicações pré-definidas se torna uma chantagem. A solução para isso, de acordo com o autor, seria a greve geral. 

Em resumo, a greve geral seria uma greve que não está condicionada pelos limites do Direito e por fins determinados, mas um movimento que buscaria “meios puros”, ou seja, outras formas de relações que não sejam fundamentadas e mantidas pela violência.

Conforme Benjamin, enquanto o direito e o Estado operam para sua autopreservação, e por isso exigem um monopólio e a administração de toda violência para si, a justiça – que nem sempre é o direito – seria a interrupção da violência que institui e mantém o poder. 

O professor explica que o texto foi debatido em momentos de greve durante sua graduação e pós-graduação. “Parece-me precioso testar a atualidade desse e outros textos nessa greve e em outras, futuras”.

Outras atividades semelhantes são planejadas pelo professor Tiago e pelas alunas Milena e Ana, a partir da discussão de textos escritos em períodos de movimentação coletiva. O próximo texto a ser debatido é uma entrevista concedida por Judith Butler, em 2010, intitulada “Sobre o anarquismo”, que aborda movimentos como Occupy e a resistência palestina. Em seguida, o grupo pretende discutir o texto Involuntários da pátria (2016), de Eduardo Viveiros de Castro, que registra uma fala do antropólogo brasileiro durante o ato Abril Indígena daquele ano.

Os anúncios das datas e lugares em que serão realizadas as próximas atividades serão divulgados no perfil do Instagram @mobilizacce

Professor de Teoria Literária da UFSC Tiago Pinheiro discursa durante a oficina. Foto: Camila Borges

Publicar comentário