Novo binário de trânsito gera opiniões contraditórias entre moradores do Pantanal

Alterações no trânsito de Florianópolis afetam o entorno da UFSC e linhas de transporte público são modificadas

BRENDA GASPARETTO

Fluidez no trânsito ao entorno da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a proposta do novo sistema binário, colocado “em prova real” no seu primeiro dia útil, segunda-feira (24). Sem linhas de ônibus como UFSC Semidireto e com a adição de outras sete, as atualizações são notadas especialmente para quem depende das vias alteradas para ir trabalhar e/ou estudar. As mudanças no trânsito aconteceram no feriado de Tiradentes, 21, com pouca movimentação.

Foram modificadas as ruas Deputado Antônio Edu Vieira, no bairro Pantanal, e Romualdo de Barros, na Carvoeira. As duas em sentido único, uma em direção ao Centro e outra em direção aos arredores da UFSC, com a intenção de diminuir filas. Para a Prefeitura de Florianópolis, o trânsito do início da manhã, na segunda-feira, teve melhora. Em nota referente a movimentação registrada no Google Maps às 7h10, informou ter registrado “excelente fluidez no trânsito”.

Elisabeth Lúcio, moradora do Pantanal desde criança, tem um filho cadeirante. Dependem semanalmente, de um trajeto curto na própria rua, mas que não pode ser feito a pé por eles, para ir à fisioterapia.


Ela, assim como outros moradores dos bairros afetados pelo novo binário, acredita ter sido uma mudança negativa. “A proposta há muito tempo é da diminuição das filas, mas isso ainda não se tornou visível”.


Para a residente da Rua Deputado Antônio Edu Vieira, Vera Lúcia Uchoa, as viagens com aplicativos vão ficar mais caras, mas ela não se importa. “Antes, eu pedia Uber e os motoristas cancelavam por conta da fila. Agora, ficou mais caro, mas nenhum cancela”, afirma. “Quem não vê benefícios com as mudanças é porque não está pensando no bem coletivo”, conclui a moradora.

Como estão as coisas hoje 

Mais de duas semanas após a inauguração do novo sistema, comerciantes da região próxima à UFSC demonstram preocupações econômicas e protestam pela insegurança deixada pela recente obra na Edu Vieira.

Antes da modificação, Adilson Santos, gerente de um posto de combustível do bairro, onde trabalha há mais de 15 anos, almoçava em casa. Agora, ele deixa o carro estacionado em uma rua de sentido duplo e prefere almoçar próximo ao trabalho. “O gasto com gasolina é muito maior tendo que fazer a volta pela Carvoeira até chegar em casa, que é perto daqui”.

Adilson conta como o prejuízo se tornou perceptível, mesmo em pouco tempo. “Se a gente vendia cerca de 15 mil litros de combustível por dia, hoje estamos vendendo 5 mil”. Para ele, o posto vai precisar realizar promoções a fim de conquistar mais clientes, pois a situação para o comércio não foi favorável.


“Está de um jeito, que se continuar assim, precisa fechar as portas. Melhorou com a mudança? Sim, mas só para quem quer fazer um trajeto rápido. Inclusive, se tornou uma pista de corrida”, conta Adilson.


A velocidade indicada para os veículos, segundo a Guarda Municipal de Florianópolis, é de 40km/h em algumas vias e em outras, de 50 km/h. Mas os moradores alertam que os motoristas não respeitam a sinalização. 

Após reclamações do excesso de velocidade, a prefeitura implementou duas lombofaixas – faixas de pedestre elevadas. Uma em frente ao posto de saúde do Pantanal e a outra, próximo à rotatória da Eletrosul. A obra foi realizada com o intuito de reduzir a velocidade dos veículos e facilitar a passagem de pedestres. 

 Os moradores do bairro apontam aspectos, como as faixas elevadas próximo à escola, que poderiam ter sido previstos antes da inauguração, se os responsáveis pela obra tivessem escutado e acatado a opinião da comunidade. 

Em entrevista ao ND+, Rafael Hahne, Secretário de Transporte e Infraestrutura de Florianópolis, afirma que a prefeitura está trabalhando no levantamento de novas necessidades e ajustes, atuando com a complementação de serviços. “Como a sinalização horizontal, instalação de placas orientativas, melhoria das calçadas na Edu Vieira e a implementação de lombofaixas, demanda apresentada pela comunidade”, disse à imprensa.


Para Gisele Dutra, moradora e empresária no Pantanal, houve insensibilidade e falta de comunicação com a comunidade na execução do projeto. “‘Ah, vamos testar no final de semana pra ver como funciona’. Errado, não é assim que funciona. Ninguém aqui é rato de laboratório”. 


Gisele defende que a insegurança persiste na Edu Vieira, “As lombofaixas funcionam mais como trampolim do que como redutor. Mesmo com as alterações, é perigoso”. Em sua mercearia, empreendimento familiar, popular entre a comunidade do bairro, diversos clientes deixaram de fazer compras. “As pessoas não têm coragem de pedir para as crianças ou idosos virem ao mercadinho, porque têm medo de que elas não consigam atravessar a faixa de pedestre”, disse.

Na cidade, a mobilidade urbana é alvo de críticas há muito tempo, mas no Pantanal, a preocupação com a segurança entre os moradores também sempre esteve presente. Apesar de possuir uma vida comercial agitada, o bairro ainda é predominantemente residencial. Com famílias instaladas desde 1990, os imóveis são passados de geração para geração. 

Com as mudanças que colocam em risco a garantia da segurança nas ruas, os moradores estão promovendo reuniões a fim de, além de assegurar seus direitos, garantir a continuidade da história do bairro. 

Marina Sbrana faz o trajeto diário do bairro Agronômica até o Pantanal, no Açougue do Bairro, desde 2016. Para a comerciante, diferente dos demais, a implementação da via de mão única afetou positivamente. “Os clientes tinham deixado de vir pelo congestionamento constante e agora estão voltando, mesmo que tenham que fazer toda a volta”. 

Para a Prefeitura Municipal, o binário aumenta o trajeto de deslocamento, mas por outro lado, diminui o tempo no trânsito. De acordo com a ferramenta Google Trânsito, do aplicativo Google Maps, o objetivo de fazer o trânsito fluir se concretizou. Pontos onde estavam engarrafados no horário das 7 h às 8 h, após a alteração, estão livres. 

Mapa da mudança de fluxo gerada pelo binário. Foto: Reprodução/NSC TV

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