Ação da polícia em aula de ritmo afro-brasileiro é apontada como racismo cultural

Ensaio de Maracatu acontecia na UFSC e foi interrompido pela PM após denúncia

PIETRA SIMIONI

O grupo Arrasta Ilha teve a aula interrompida por policiais militares no último domingo, 21, no Centro de Convivência da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Uma viatura do 4º Batalhão da Polícia Militar (PM) foi acionada para atender uma ocorrência de perturbação de sossego feita pelo 190.

Cerca de 30 alunos participavam da aula de Maracatu, um ritmo popular com práticas percussivas e corporais da cultura africana e afro-brasileira. A denúncia está sendo vista como uma forma de racismo cultural.

Vanessa Zacchi é aluna do Arrasta Ilha e alega que o racismo existe e não é a primeira vez que foi visto de forma velada. “Tinha um palco aos arredores da UFSC com música alta em um domingo do mês passado. Estava tendo prova no dia e pediram para parar o nosso ensaio. Alegamos que só parávamos quando o palco também parasse. Só então eles suspenderam o som do palco montado. O nosso som sempre incomoda mais. Mesmo quando caixas de sons estão sendo usadas por sertanejo, por exemplo”, disse.

Alexandra Alencar é uma das coordenadoras do Arrasta Ilha  e disse que o posicionamento do grupo estava expresso na nota de repúdio publicada na página do Instagram, @arrastailhaoficial. “Entendemos a existência dos direitos individuais, mas também a existência de direitos coletivos, inclusive esses últimos resguardados pela Constituição Federal de 1988 de expressão, formação e difusão sobretudo de manifestações culturais negras constituintes daquilo que entendemos como cultura brasileira”, foi escrito. 

 O artigo “O Racismo e suas Amarras: Avanços e Retrocessos Nos Modelos Culturais”, da Elisabete Hammes e da Cristiana Girotto, técnicas em assuntos educacionais na Universidade Federal da Fronteira Sul, aponta que o racismo se revela na produção das identidades e se orienta por um padrão hegemônico referenciado na cor da pele branca. “A insistência na intolerância contra o diferente, que é posicionado em um patamar inferior, marca o racismo cultural como uma retomada da lógica hierárquica de cultura”, é dito no estudo.

 A UFSC registrou a sua surpresa e estranheza em relação à ação da PM que atendeu a ocorrência em nota publicada no site da reitoria da universidade. “Em vista do ocorrido, a UFSC está solicitando reunião com o comando da Polícia Militar para que o atendimento dessas ocorrências seja pautado pelo diálogo e busca de equilíbrio entre o direito ao sossego dos cidadãos e o direito coletivo de participar de manifestações culturais”.

Polícia Militar interrompe ensaio de Maracatu do grupo Arrasta Ilha na UFSC. Foto: @fbnbernardes/Twitter/Reprodução/ND

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