Mais de 400 pessoas apoiam mudança; projeto de lei aguarda tramitação na Câmara

JULIA LUCIANA

Corridas de aplicativo canceladas, lanches que não chegam e correspondências retidas na agência mais próxima. Moradores da rua Papaquara, na Vargem Grande, relatam constrangimentos diários em razão da via ter o mesmo nome da comunidade Papaquara, região de Florianópolis com atuação do crime organizado. Mais de 400 pessoas assinaram um abaixo-assinado entregue ao vereador Dinho (União Brasil), que protocolou um projeto de lei que propõe renomear a rua para “Tito Lívio Pimentel de Escobar”, em homenagem a um ex-morador. 

“Quem pega Uber aqui fala que tem dias que eles não aceitam a corrida. Em outros dias os motoristas até aceitam, mas depois cancelam”, diz Marines da Silva, moradora da rua há 24 anos. Murialdo da Silva vive há três anos no local e enfrenta problemas no trabalho devido ao nome. “Lá no meu serviço toda hora tiram sarro por causa dessa rua”. Para ele, a mudança vai ajudar a afastar as dificuldades e confusões do dia a dia. “Vai perder a referência, sai esse fantasma daqui”, afirma o morador. 

A empresária Eliane Pazini mora há 25 anos no endereço e acredita que a troca de nome traz mais transtornos que benefícios. Como possui comércio registrado no endereço, a alteração exige atualizar documentos na Junta Comercial e em outros órgãos. “Para mim não é viável trocar o nome agora”, relata. 

Não é a primeira vez que os moradores tentam mudar o nome da rua. Em 2018, o vereador Dinho, filiado ao MDB na época, registrou o projeto de lei 17.539/18 que sugeria a troca para rua “dos Ipês Amarelos”. A proposta foi negada pela Câmara de Vereadores porque já existia uma avenida com esse nome em Florianópolis. Em setembro de 2025, foi protocolado o PL 19.702/2025 para novamente tentar alterar o nome da rua. Segundo o parecer da Comissão de Constituição e Justiça, a proposta cumpre todos os requisitos legais. Entretanto, de acordo com Dinho, a mudança não deve ocorrer este ano. 

A rua e a comunidade ficam em lados opostos da rodovia SC-403, no Norte da Ilha. Na comunidade, os desafios são outros. Maurício Rozendo mora há 11 anos na região e enxerga potencial, mas destaca a falta de apoio governamental. Entre os principais desafios estão a falta de saneamento básico, o rio Papaquara – que fica obstruído e causa alagamentos durante chuvas – e a ausência de um espaço de lazer para crianças. Ele compara a presença do crime organizado com um “fruto podre”, que mancha a imagem da comunidade e reforça o preconceito.

Maurício concorda com a mudança do nome e diz não julgar os moradores pela decisão. Para ele, o pedido de renomeação serve como alerta: se os moradores querem se desvincular da comunidade, é sinal de que há problemas que precisam ser enfrentados, e que a região merece políticas públicas que reduzam estigmas e melhorem as condições de vida.