Centro de Florianópolis recebe nova pintura em murais que homenageiam figuras históricas
Antonieta de Barros e Franklin Cascaes são repintados no Edifício Atlas
AYANA ARAÚJO
A primeira deputada negra do Brasil, Antonieta de Barros, e o folclorista Franklin Cascaes voltam a ganhar destaque no centro de Florianópolis por meio da repintura de dois murais que homenageiam suas trajetórias. As pinturas começaram em 9 de maio, o mural de Antonieta já está finalizado e o de Cascaes tem previsão de conclusão para sexta-feira, 6 de junho. A iniciativa surgiu dos artistas Thiago Valdi e Gugie Cavalcanti.
As obras originais faziam parte da paisagem urbana da capital há quase oito anos, o mural de Cascaes foi pintado em 2017, e o de Antonieta em 2019. No ano passado, as fachadas do prédio apresentaram sinais de infiltração, impossibilitando reparos nas artes que já estavam desgastadas. Foi necessário refazer toda a base e realizar a repintura completa.

Além da necessidade técnica, a decisão de restaurar os murais foi impulsionada pela mobilização popular. O assistente de pintura e produção Bruno Brasil, conhecido como Tudix, conta que a pressão da própria comunidade pelo retorno das artes teve papel fundamental. “As duas figuras são importantes pelo que representam a cada indivíduo. Essa comoção foi o que trouxe elas de volta.”
“A arte fortalece o vínculo entre a população e sua história”, ressalta Bruno.
Para ele, as figuras retratadas carregam significados simbólicos para Florianópolis. Antonieta foi jornalista, professora e a primeira deputada negra do Brasil. Sua presença nos muros da cidade destaca a luta histórica das mulheres negras por espaço na política e na educação. Já Franklin Cascaes é reconhecido por seu trabalho de preservação das lendas e tradições açorianas, elementos centrais da cultura local.

Para Thiago Valdi, a importância de refazer os painéis é resgatar duas obras que “transcenderam a efemeridade da arte urbana”, e se transformaram em algo que a população enxerga como valor simbólico. “A arte deve ser vista em espaços públicos. Cascaes defendia que a cultura deveria ser acessível a todos, e Antonieta defendia que a educação era um direito. Ficamos felizes em ter essas mensagens ecoando pela cidade.”
“É uma vitória e uma conquista de novo. Esses painéis tiveram muito esforço para serem feitos na primeira vez, então o apagamento foi um desafio. Mas essas duas figuras nos inspiram a enfrentar as dificuldades, ambos em vida foram muito guerreiros”, diz Thiago.
A artista e curadora Gugie, responsável pelo mural em homenagem a Antonieta, destacou a força simbólica da obra em sua trajetória como mulher negra. “Pintar o mural me deu força, me aconselhou e edificou parte da minha carreira”, afirma. Para ela, a homenagem vai além da estética, ela representa resistência e representatividade para mulheres, e principalmente para mulheres negras.
“A gente se orienta muito por uma espécie de fé e representação. Entender que as criações vêm de uma fonte que é para além do que a gente consegue enxergar”.

A repintura dos murais trouxe algumas mudanças em relação às versões originais. No painel de Antonieta de Barros, as cores ficaram mais vivas e alguns elementos foram trocados, trazendo mais da história da deputada. Já no mural de Franklin Cascaes, foram incluídas novas imagens e figuras místicas inspiradas em sua trajetória. Os materiais utilizados são tintas acrílicas premium, borrifadores e tintas spray.
Além de Gugie e Thiago, as obras contaram com o apoio de três auxiliares em cada pintura. No mural de Antonieta, participaram Regis Strutz, Olivia Graffiti e Saul Smith. Já na imagem de Cascaes, os auxiliares foram Bruno Brasil, Regis Strutz e Wagner Wagz. O projeto tem o apoio do Sicoob.

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