UFSC forma primeiro psicólogo indígena do povo Xokleng
Com apoio de cotas, Tschucambang Ndilli se forma após 7 anos de estudo
SARAH PRETTO
Tschucambang Ndilli é o primeiro indígena Xokleng a se graduar no Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A formatura teve 35 alunos e ocorreu na quinta-feira, 8, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, em Florianópolis.
Tschucambang entrou na universidade em 2017 pelo sistema de cotas indígenas e diz receber muitos elogios de parentes e amigos. “Acho que as pessoas da minha aldeia, que conhecem minha história e sabem que as coisas nunca foram fáceis, se sentiram bastante orgulhosas.”

O psicólogo é do município de José Boiteux, município do Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina, localizado há 128 km de Florianópolis. Entre 5.985 habitantes na cidade, 1.373 são indígenas, um total de 24%, da etnia Laklãnõ-Xokleng. É a 3ª maior porcentagem do estado, logo atrás de Ipuaçu e Entre Rios.
Tschucambang relatou ter sofrido racismo indígena no campus e que na universidade.
“Fala-se bastante sobre racismo mas só o racismo negro”.
Rogério Rosa, professor do Curso de Psicologia e supervisor da monitoria de indígenas e quilombolas, concorda que muitos dos problemas trazidos dos alunos à ele se referem ao racismo institucional e que “há a necessidade de políticas sistemáticas e constantes contra o racismo anti-indígena e à favor da interculturalidade na universidade”, explica.
Atualmente são 179 estudantes indígenas matriculados em cursos de graduação na UFSC, e destes 34 são Xoklengs. Tschucambang diz que “as cotas são hoje a principal porta de entrada para muitos jovens indígenas no ensino superior”.
Na UFSC, as políticas de cotas para indígenas tiveram início em 2008, com a aprovação do Programa de Ações Afirmativas (PAA). Esse programa estabeleceu 20% das vagas para estudantes que cursaram os ensinos fundamental e médio em escolas públicas, 10% das vagas para estudantes autodeclarados negros, prioritariamente de escolas públicas, e vagas suplementares específicas para indígenas, independentemente do percurso escolar.
A partir de 2012, com a sanção da Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), e sua alteração Lei nº 14.723/2023, a UFSC passou a integrar as reservas de vagas para indígenas também no sistema legal nacional, sendo 16% das vagas de cada curso reservadas para candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI). A universidade também manteve as vagas suplementares para candidatos indígenas, independente de onde cursaram o ensino médio, como uma política institucional própria.

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